segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

MÉDICOS E LITERATURA (II)

A relação entre médicos e literatura oferece a qualquer estudioso um dos mais profícuos campos de estudo. Diferentemente do caso do jornalista-escritor, que foi objeto de interessante encontro no ano passado em São Paulo, o médico enfrenta situação em que o conhecimento das minúcias dificulta uma abordagem mais generalizante. Em sua eterna preocupação com causas e efeitos, nem sempre ele consegue escrever para grande público. Mais comum é o médico escrever livros e mais livros sobre sua especialidade, ou didáticos, o que o coloca na situação de um escritor superdotado, de inteligência fora do comum, mas por isso mesmo não consegue uma linguagem acessível.
Casos raros são os de Içami Tiba, autor de “Quem Ama, Educa”, que atinge milhões de leitores com suas experiências em torno de educação infantil, ou de José Knoplick, que chegou a vender 195 mil exemplares de seu “Viva Bem Com a Coluna que Você Tem”, livro de cabeceira de quem sofre da coluna. São livros de leitura simples, ao alcance de qualquer um, e que por isso mesmo se transformam em “best sellers”. Outros valem por sua precisão científica, como “Mentes Inquietas”, de Ana Beatriz B. Silva, que aborda a momentosa questão da hiperatividade.
A psiquiatria, por exigir exposições mais longas, já que suas questões são essencialmente discursivas, é talvez a especialidade médica que fornece maior quantidade de temas e respectivas variações. Apenas uma área do Instituto de Psquiatria, por exemplo - a de doenças afetivas, subdivide-se em dezenas de outras que originam livros importantes sobre depressão, esquizofrenia, ansiedade, etc. Na área de sexualidade, a Dra. Carmita Helena Najjar Abdo já lançou vários livros. Recentemente, a Dra. Stella Tavares, juntamente com seus colaboradores Pedro Paulo Porto Júnior, Pedro Luiz Mangabeira Albernaz, Márcia Carmignani e Andréa Mangabeira Albernaz, lançou o livro “Durma Bem Viva Melhor”. Os autores são do Hospital Albert Einstein. Provavelmente, eles não se consideram escritores. São grandes especialistas, que reuniram em livro suas experiências, num trabalho fundamentado, mas ao mesmo tempo acessível.
Nada obsta que sejam considerados escritores, embora no caso não se trate de um trabalho de criação, característica que se exige de um romance ou qualquer outra peça literária.
Outro médico que lançou um bom livro, recentemente, foi o professor Adib Jatene. Trata-se de “Carta a um Jovem Médico”, em que faz recomendações aos que pretendem ingressar na carreira. Mais interessante de que seus conselhos, importantes porém óbvios, pois baseados em que só deve abraçar o ofício aquele que tem amor ao próximo, é seu próprio testemunho de vida, ou seja, a trajetória de um menino que saiu dos cafundós (Xapuri-AC) e tornou-se professor titular da melhor faculdade de Medicina do país e ministro da Saúde.
Ser médico e escritor ao mesmo tempo exige capacidade intelectual e disposição física para escrever entre um trabalho e outro. Como a maioria precisa do lazer nos fins de semana, sobram os que têm gosto especial por esse tipo de atividade. Além de tudo isso, para ser médico e escritor precisa ter duplo talento.

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