segunda-feira, 18 de agosto de 2008

TAIGUARA

O CANCIONEIRO DA ESPERANÇA

A história de Taiguara Chalar da Silva começa a 9 de outubro de 1945 em Montevidéu e termina em São Paulo, Capital, a 14 de fevereiro de 1996, quando tinha 50 anos e 4 meses. A discussão em torno de sua morte segue mais ou menos aquela tendência do imaginário popular de sublimar a morte dos artistas, enxergando mistério em tudo. Buscam-se razões as mais estranhas, esotéricas até, para explicar a morte de um ídolo.
Não faltam ainda hoje especulações como as que ocorreram com a morte de Tancredo Neves, Castelo Branco, Juscelino Kubitschek e tantos outros. Em menor escala, claro. O caso mais conhecido é o de Tancredo. Até hoje as pessoas abordam os jornalistas com a inevitável pergunta que também é uma afirmação: ele teria morrido antes e foi mantido vivo até o dia 21 de abril, data histórica importante, etc. Por mais que se argumente, ninguém convence o povo do contrário. O InCor e o professor Henrique Walter Pinotti até hoje carregam o estigma de terem participado ativamente da morte de Tancredo.
Não vamos conferir à morte de Taiguara a mesma importância. Ela não teve o mesmo peso na mídia. Mas as especulações existiram, e ainda existem, talvez pelo fato dele ter mexido com a sensibilidade popular. E pelo fato dele ter alimentado a idéia de perseguição. Outra alegação inevitável é a morte prematura, se é que a morte aos 50 anos pode ser considerada prematura, num país em que as estatísticas sobre a média de vida são controvertidas.
Taiguara morreu de tanto amar, diria Vinícius de Moraes, vivo fosse. Já o pai de Taiguara é mais realista. Acha que ele foi vítima de excessos alimentares. Muita carne, no melhor estilo de sua origem gaúcha, e muito vinho. O câncer na bexiga interrompeu uma carreira em ascensão.

Infância, entre pianos e bandoneons

Antes de Taiguara nascer, seu avô, o gaúcho Glaciliano Correa da Silva, tocava bandoneon em Porto Alegre e por todo o interior do Rio Grande do Sul. Seu repertório era basicamente música gaúcha, mas também incluía o tango argentino.
Quando o pai de Taiguara tinha 12 anos, toda a família foi a Montevidéu, para tentar resolver um problema de saúde de um irmão, Turiassu Correa da Silva, que era paraplégico devido a uma hidrocefalia. Eles tinham sido atraídos pela notícia de que no Uruguai havia um médico muito bom nesses casos. Moraram dois anos lá.
A viagem não curou o tio de Taiguara, mas pode ter criado o primeiro elo que explicaria o fato dele ter nascido na capital uruguaia, já que, alguns anos mais tarde, as dificuldades financeiras da família levaram Ubirajara Correa da Silva, também músico profissional, a mudar-se para Montevidéu, não sem antes pensar muito na hipótese de ir para Buenos Aires, aonde tocara muitas vezes.
Ubirajara conhecia muito bem a rivalidade entre brasileiros e argentinos. Sentiu na própria pele o que é ser brasileiro em Buenos Aires. No mínimo, um rejeitado. Daí sua opção por Montevidéu.
Logo se engraçou de uma cantora, Olga Chalar, com quem veio a casar-se em 194x e com quem teve dois filhos: Taiguara Chalar da Silva e Araguari Chalar da Silva.
Em janeiro de 1949 Ubirajara e Olga vieram para o Rio de Janeiro. Taiguara tinha 4 anos, seu irmão 2. O primeiro ano foi em Santa Cristina e dessa fase Taiguara não lembra muita coisa, mas contava sempre que convivia com filhos de portugueses e espanhóis e que nas noites de lua o cenário era de música de Vinícius. “Ainda hoje, quando ouço cavalo-marinho” me lembro de Santa Cristina, disse Taiguara a Marcos Baby Durães, em memorável entrevista concedida à rádio Jovem Pan AM, de São Paulo.
Quando saiu de Santa Cristina foi para a Lapa. Morava numa casa na esquina da Mem de Sá com Rezende, onde havia uma oficina de acordeón do avô, Glaciliano. Por ela passavam os mais famosos acordeonistas da época.
Nas entrevistas, porém, fala mais dos tempos de Santa Teresa, que seria o bairro mais constante em sua vida, pois mesmo tendo morado na Barra da Tijuca (Rio), no Embu (São Paulo), em Pau Amarelo (Olinda-PE) e tantos outros lugares, sempre acabava voltando para a antiga casa, aonde ainda hoje existem algumas coisas daqueles tempo, especialmente o primeiro piano comprado pelo pai.
Quando tinha nove anos, foi visitar sua avó materna em Montevidéu. Pegou a bicicleta de um vizinho e pedalou em quase toda a cidade, embevecido com suas ruas arborizadas, e até circundou a estátua do Parque Rodô (?). Resultado: ao voltar para casa, levou merecidas palmadas de sua mãe, que não sabia onde ele andava.
Essa, a única recordação de ter sido punido pelos pais por causa de alguma arte. No mais, foi um garoto bem comportado, que adorava música brasileira, mas tocava “rock”. Seus primeiros ídolos foram Sílvio Caldas, Luís Vieira, Maysa, Doris Monteiro, Tito Madi, entre outros. Chegava a imitar Luís Vieira, de quem gravaria, mais tarde, o famosíssimo “Paz do meu amor”, que na verdade se chama Prelúdio no 2.
Embora a MPB fosse seu xodó, não podia fugir às influências da época, que não eram do jazz. No caso da rapaziada, o negócio era rock mesmo. E Taiguara imitava, à perfeição, segundo todos os testemunhos, nada menos que Elvis Presley. Vestia-se igual a ele para se apresentar em shows no colégio em que estudava.

Dos bancos da faculdade para os palcos da noite

Taiguara tinha 17 anos quando seu pai o matriculou no Instituto Mackenzie, uma das mais respeitáveis escolas superiores de São Paulo, para estudar Direito. Com ele, estudava também seu irmão mais velho, Araguari Chalar da Silva, que chegou a se formar em Psicologia, mas faleceu jovem, aos 47 anos, vítima de câncer no intestino. Sempre trabalhando muito, Araguari só detectou a doença quando era tarde demais.
Taiguara começou sua carreira no João Sebastião Bar, um dos pontos de encontro dos artistas na década de 60, situado pertinho do Mackenzie, onde era um aluno à Castro Alves, preocupado com as injustiças sociais e preconceitos, que procurava canalizar sua indignação para a arte.
Um de seus ídolos era Vinícius de Moraes, que conhecera aos 13 anos, nas rodas de samba ou de literatura do Rio de Janeiro. Vinícius morava no Rio, mas baixava em São Paulo de vez em quando, e ia sempre ao barzinho da rua Marquês de Itu, onde se encontrava com Chico Buarque, Claudete Soares, Geraldo Vandré, Airto Moreira e muitos outros que pontificavam na meca paulista da Bossa Nova.
Durante cerca de um ano, Taiguara cantou naquele bar. Ainda não um profissional, mas já dava o seu recado, tendo como padrinhos artísticos Chico e Claudete.
Em seguida, foi convidado pela Philips para gravar seu primeiro disco, “Samba de copo na mão”, que logo entrou nas paradas de sucesso.
Um dos primeiros espetáculos de grande público de que participou foi produzido por Walter Silva, o famoso descobridor de talentos da MPB. Realizado em 16 de novembro de 1964, Mens Sana In Corpore Samba contava com uma turma onde apareciam, pela ordem, Toquinho, Taiguara, Maria Lúcia, Chico Buarque, Ivete, Tuca, Solano Ribeiro, Sérgio Augusto, Bossa Jazz Trio, Bossatoa, Roberta Faro e Os Poligonais. A segunda parte era a repetição de um show da boate Zum-Zum, com Silvia Telles, Conjunto Roberto Menescal e Oscar Castro Neves.

Os primeiros discos, os primeiros shows

Daí pra frente o sucesso não foi difícil. Seu primeiro LP, ainda da Philips, foi produzido por Luiz Chaves, do Zimbo Trio. Conta o pai de Taiguara, o também músico e maestro Ubirajara Correa da Silva, ainda hoje entregue à rotina do trabalho no Rio de Janeiro, que foi esta a primeira vez que uma gravadora colocou num estúdio uma orquestra inteira, com mais de 60 músicos. E deu a Taiguara toda a liberdade para escolher o repertório, arranjos e demais detalhes necessários à realização plena de seu trabalho.
Pelo menos nesse ponto, Taiguara nunca pôde se queixar: sempre gravou o que quis, com os arranjos que ele mesmo fez ou encomendou aos amigos, e participou ativamente de todo o processo de produção.
“Eu queria me provar que era um grande artista. Então gravei um disco com trinta figuras, mil cordas, trompas soando”, disse Taiguara a Luís Carlos Sá em abril de 1970, mas não entendia por que o LP não tinha dado certo, quer dizer, não tinha sido um estouro de vendas.
Foi nessa época que Taiguara participou de um show produzido pela dupla Miéli-Bôscoli, chamado 1o Tempo 5xO, com Claudete Soares. O show fez muito sucesso e ficou um ano em cartaz no Rio de Janeiro.

A fase gloriosa dos festivais

A fase gloriosa foi a dos festivais. Taiguara foi quatro vezes finalista do Festival Internacional da Canção, como compositor e intérprete, destacando-se com “Chora, coração”, de Vinícius e Baden Powell e com “Universo do teu corpo”, dele mesmo.
Sobre essa última canção, anos depois, Taiguara costumava fazer um apelo no sentido de substituir os seus primeiros versos por “eu não desisto e sempre existiu o amanhã que eu persegui”. O apelo veio tarde demais. Ainda hoje essa música é uma das mais apreciadas pelo seu público.
Era o V Festival Internacional da Canção. A música ficou em oitavo lugar e revoltou Taiguara, que desabafou em Fatos e Fotos de 12 de novembro de 1970:
“Quando resolvi concorrer não podia imaginar que as pressões econômicas fossem tão grandes. Todo mundo achava que eu merecia o primeiro ou o segundo lugar, mas como gravo pela Odeon e não pela Philips (e o júri era composto pelo pessoal da Philips), me deram o oitavo lugar. Isso me deixou desesperado, mas ainda assim procurei me acalmar. Afinal, o público do Maracanãzinho estava do meu lado, me aplaudindo e vaiando o júri, que não teve a coragem de dar a colocação que eu merecia. Mas, o que me deixou doente mesmo foi eu ter sido convidado para a festa de encerramento, segunda-feira à noite no Teatro Municipal e na última hora ter sido cortado. Isso foi um dos maiores trambiques que sofri na vida.”
Taiguara tinha feito uma roupa especial para a festa: “Agora eu entendo tudo: não interessa à TV Globo que o público conheça minha música, porque não sou contratado dela e comecei na TV Tupi, num programa de Flávio Cavalcanti. Por todas essas implicações econômicas, que matam o festival, não participo mais do FIC. A gente precisa é uma coisa livre, tipo Woodstock. Um festival ao ar livre, numa praça, onde o povo possa ir sem pagar. E nós artistas possamos fazer uma verdadeira feira musical.”
Na entrevista, Taiguara conta com a solidariedade de Michèle Torr, que também não conseguiu boa colocação e confessa não entender o júri: “Fui uma das mais aplaudidas e não cheguei nem ao décimo lugar”, disse ela.
Além de acusar os jurados que, segundo ele, não entendem nada, Taiguara acusou também o som:
“No dia da apresentação, o som do Maracanãzinho era ruim, não deu pra ouvir nada”.
Dia seguinte ao festival, a Odeon fez um coquetel para lançar o LP Viagem, contendo “Universo do teu corpo”. O disco seria lançado independentemente do resultado do festival. Marcado para 18 horas, Taiguara só chegou lá pelas 20, com a desculpa de que tinha ido ao médico, para verificar suas cordas vocais. O lançamento se transformou numa reunião de solidariedade a Taiguara, com a presença, entre outros, de Toni Tornado e Cláudia, que também haviam participado do festival. (Obs: que músicas defenderam e que classificação conseguiram?)
Durante a festa, Taiguara fala sobre suas incursões cinematográficas. Trabalha como ator em O Bolão, filme que classifica como chanchada. Vai começar a fazer roteiros cinematográficos, sem prejuízo de sua carreira de compositor. Sem alusão direta ao nome do LP, dá os primeiros sinais do que seria, mais tarde, uma característica de sua carreira: viajar. Comentava com os amigos que só iria esperar a saída do filme, em novembro (1970), para começar os preparativos de uma viagem ao exterior. Estava escolhendo um país da Europa, mas não excluía os Estados Unidos de seus futuros roteiros.
O País escolhido foi Londres, onde esperava gravar o que proibiam aqui. Foi ao encontro de Peter Philips, que apesar do nome, não era da gravadora Philips, e sim diretor da Odeon inglesa, a EMI-Odeon. Sabia-se que ele jamais dera oportunidade a estrangeiros, mas Taiguara o enfrentou corajosamente e conseguiu êxito em sua empreitada. Gravou 18 músicas, que jamais foram editadas pela gravadora. Mais tarde, Taiguara denunciava que tudo tinha sido de propósito, ou seja, a gravadora não queria que ele gravasse aquelas músicas em lugar nenhum, muito menos no Brasil. Taiguara chegou a suspeitar que a gravadora estaria sendo gentil ao governo militar. E alardeou essa suspeita, jamais comprovada na prática. Já a essa época, Taiguara revelava uma mania de perseguição que o perseguiria para o resto da vida.
Não há registros na imprensa de que ele tivesse sido perseguido como Caetano Veloso e Gilberto Gil, por exemplo. Ao contrário, há inúmeras entrevistas em que ele admite que entrou em acordo com a Censura. Sempre que uma de suas músicas era vetada, ele comparecia à Polícia Federal e tentava mudar uma ou outra palavra, na tentativa de liberar a letra. Em 21 de setembro de 1971 o Jornal do Brasil anunciava que “a Censura Federal manteve ontem a proibição da música Corpos Luz, de Taiguara, sob o argumento de que não foram substanciais as modificações feitas pelo compositor na letra da canção”. O argumento da Censura era tão confuso quanto a mudança. Taiguara trocara o título para Fazendo Deus.
Voltando a Londres, Taiguara mostrou suas músicas a John Cameron, famoso arranjador e compositor que, naquele momento, fazia a trilha sonora de um filme de Elizabeth Taylor. Cameron prometeu gravar um compacto com suas músicas e foram escolhidas A transa, Hoje, Rua dos ingleses e Viagem. Em sua volta ao Brasil (maio de 1972), Taiguara contava orgulhoso suas conquistas e anunciava que voltaria a Londres em agosto daquele ano para entrar seriamente no mercado europeu, a convite de Peter Philips.
Antes da passagem por Londres, Milton Miranda, seu produtor à época, havia levado Taiguara a Paris, onde Françoise Hardy fazia sucesso com uma versão de A transa. Milton e Taiguara foram recebidos por Alain de Ricou, da Pathé Marconi, que prometeu gravar a divulgar suas músicas na Europa e forneceu uma carta de apresentação ao diretor da KPM inglesa. Em Paris, Taiguara reencontrou Tuca, cantora brasileira que começara com ele, nos famosos shows universitários de São Paulo, e fazia sucesso como produtora, cantora e compositora.

A história de Modinha

Taiguara conquistou o lo lugar no festival “Brasil Canta no Rio”, com Modinha, de Sérgio Bittencourt (filho de Jacob do Bandolim), recebendo o prêmio de melhor intérprete.
A participação de Taiguara nesse festival ocorreu de forma inusitada. Sérgio procurou inicialmente Sílvio Caldas, que não aceitou o convite, alegando a existência de outros compromissos. Eliana Pittmann também não pôde ou não quis. E até o Quarteto OO4, que não era dos mais famosos, recusou o convite para defender Modinha. O autor já estava desiludido quando se encontrou com Taiguara, que também resistiu. Afinal, não conhecia a música e estava sendo solicitado na qualidade de regra três. Mas Taiguara não poderia deixar de atender ao pedido de um amigo. Sendo, ainda, o filho do grande e inesquecível Jacob do Bandolim, um dos grandes mestres desse instrumento. Foi justamente Jacob que salvou Taiguara, na primeira apresentação, segurando a melodia pouco conhecida do intérprete. Taiguara não decorara a letra e errara tudo. Mesmo assim, a música foi classificada. E deu no que deu. A interpretação de Taiguara, já na fase de disputa, foi tão marcante que até hoje essa música é uma das puxadoras de vendas de seus discos, sucessivamente relançados pela EMI-Odeon.
Quem não se lembra de Taiguara em todos os televisores do Brasil, o público emocionado como num final de Copa do Mundo, algo assim.

Taiguara teve também a sua Helena

Taiguara também foi primeiro lugar no 1o. Festival Universitário da Música Brasileira, com Helena, Helena, Helena, de Alberto Land, em 1969.
Aqui cabem algumas explicações dadas pelo próprio cantor, em entrevistas. A música, como se sabe, fala de uma prostituta. “Eu chorei de verdade no próprio palco porque senti a minha realidade”, disse Taiguara em entrevista à Jovem Pan. Contou que por volta de 1966, 67, freqüentava um bar chamado Vila Verde, no caminho da rua Frei Caneca, que era também frequentado por Ismael Silva, Edu Lobo, Francis Hime, entre outros. O bar tinha esse nome porque servia um delicioso caldo verde.
Taiguara, como Alberto Land, tivera também algumas aventuras na Lapa, famoso reduto boêmio e de prostitutas. Não há compositor carioca ou paulista de peso que não tenha passado por seus bares desde as décadas de 30 e 40.
Taiguara chegou a se apaixonar por uma delas. E a música de Alberto Land mostrava exatamente uma situação similar à que ele tinha vivido, daí o pranto difícil de controlar.
“Eu não me senti cantor naquele momento. Por um instante eu tive uma imagem de vida, uma outra realidade brotando por dentro”, relembra.
O próprio Land admitiu que compôs a música chorando.
Quanto à escolha dele para intérprete, foi uma decisão unilateral de Jacob do Bandolim:
“Você vai cantar essa música”, disse ele a Taiguara. E ponto final.
Jacob era um dos músicos que acompanhavam Modinha. Quando Taiguara a defendeu pela primeira vez, errou a letra, que não tinha decorado por completo. Foi Jacob que salvou o intérprete, com um providencial solo, ajudando-o a continuar, cantarolando.
Foi naquela noite que Taiguara fez seu primeiro discurso durante uma apresentação. Ao voltar para o bis muita gente conversava em voz alta na platéia, comentando o pranto de Taiguara. Ele deu a bronca:
“Olha, vocês precisam entender que nem tudo nesse mundo é embromação. Não me comovi aqui de grupo, não. Isso aconteceu por uma razão muito forte: eu acho que todo mundo tem sua Helena na vida”.
Taiguara parece ter tomado, a partir daí, o gosto pelo discurso. Começava a mudar seu comportamento. “Eu me encontrei, bicho. Foi o primeiro recado que eu dei mesmo. Antes era tudo artificial, era tudo aquele negócio de artista e coisa e tal”, continuou Taiguara, falando ainda a Luís Carlos Sá.
No 2o Festival Universitário da Música Brasileira Taiguara ficou em 2o lugar com Nada sei de eterno, de Silvio Silva Júnior e Aldir Blanc, bem como o prêmio de melhor intérprete.
Em 1967 assinou contrato com as Associadas e comandou um programa semanal na TV Tupi do Rio de Janeiro, “Farhrenheit 2000”. Em 1968 participou de um movimento musical chamado “Musicanossa” e assinou contrato com a Odeon, para gravar os sucessos dos festivais.
Assim, a década de 70 foi uma sucessão de prêmios, turnês, circuitos universitários e viagens internacionais.
No auge de sua carreira, que não tinha então mais que cinco anos, viu-se tentado a casar-se.
Levou ao altar a filha de um músico, Geisa.......
Sua carreira foi bem até sentir na pele os efeitos da censura. Já desfrutando de enorme popularidade, Taiguara começou a sofrer com a censura a seus novos trabalhos. Chegou a contar mais de 40 vetos. Começou então a pensar em mudar-se. E justificava sua inconstância com a necessidade de estudar, reciclar-se, aprender mais sobre o Brasil...
Aproveitou para aceitar convites para cantar no exterior e decidiu exilar-se, ao mesmo tempo em que mergulhava de corpo e alma em pesquisas, em viagens aos Estados Unidos, Europa e África. Em Londres gravou um disco, que não chegou a ser lançado no Brasil, supostamente por desinteresse de sua própria gravadora. Vai ver ela não queria desagradar o regime.
Exatamente nessa data o jornalista e produtor musical Walter Silva comemorava discretamente o 33o aniversário do primeiro grande show realizado no Teatro Paramount com Elis Regina, então com apenas 20 anos de idade.
Ao lado do cartaz do show de Elis havia outro, que anunciava o show “Mens Sana In Corpore Samba”, promoção da Faculdade de Educação Física da Universidade de São Paulo.
Era o primeiro show importante de que Taiguara participava em São Paulo, no dia 16 de novembro de 1964. Taiguara era o segundo da lista de um cartaz onde apareciam, pela ordem, Toquinho, Taiguara, Maria Lúcia, Chico Buarque, Ivete, Tuca, Solano Ribeiro, Sérgio Augusto, Bossa Jazz Trio, Bossatoa, Roberta Faro e Os Poligonais. A segunda parte do espetáculo era um show da boate Zum-Zum, com Silvia Telles, Conjunto Roberto Menescal e Oscar Castro Neves.
Nas paredes de sua elegante casa no bairro do Morumbi, em São Paulo, Walter Silva ostenta com justo orgulho esses e outros cartazes dos primeiros de shows de MPB que promoveu na década de 60, inclusive o primeiro grande show com Elis Regina naquele 31 de agosto de 1964, antes do Mens Sana, que tive o privilégio de aplaudir de pé e emocionado.
Walter ficou na história da MPB como um dos maiores descobridores de talentos. Por suas mãos passaram grandes nomes. Ele tinha um programa na Rádio Bandeirantes que fez história, o Pick-Up do Picapau, que tocava preferencialmente artistas de qualidade, alguns ainda desconhecidos do grande público. Em outubro de 1997, dois meses depois de reviver esses fatos, Walter foi operado do coração, recebendo quatro pontes de safena, por coincidência no mesmo hospital em que morreu Taiguara, o Sírio Libanês, em São Paulo.
Claro que as gravadoras apreciavam a conduta de Walter. Afinal, ele acabou sendo um descobridor de novos talentos. Durante muitos anos manteve essa característica, descobrindo novos valores e promovendo-os, tanto nas emissoras de rádio como nos shows que produzia com grande sensibilidade e sobretudo com grande senso de oportunidade.
“Para mim, Taiguara era um épico, um exagerado. Eu não gostava de suas interpretações teatrais, mas de sua música, sim”, disse o incentivador de dezenas de artistas que mais tarde se tornariam nomes de grande expressão nacional e internacional.

Pai queria outra carreira para o filho

Quando o assunto é Taiguara, o pai dele, Ubirajara Correa da Silva, 74 anos, ainda se emociona. Fala com entusiasmo, vibra ao recordar o menino, o jovem e o adulto impulsivo. Tendo extinguido seu conjunto, Ubirajara é ainda hoje (outubro de 1997) requisitado para apresentações as mais diversas. Na semana em que conversamos, ele preparava um workshop que realizaria no dia seguinte num colégio de Jacarepaguá. Era uma proposta didática, de levar aos estudantes a música instrumental ao vivo. No repertório que ele mostraria aos estudantes estavam desde um pout porri de tangos até clássicos como “Sardas”, de Monzzz??? , “A Dança ritual do fogo”, de Manuel de Falla, “O vôo do besouro”, a “Protofonia do Guarani”, de Carlos Gomes. Esta última, aliás, era tocada num dos shows com que Taiguara excursionou por todo o Brasil.
Na mesma semana em que concedia entrevista, Ubirajara gravaria uma cena da novela “Por Amor”, da TV Globo, em que o dono da casa (Eduardo Dolabella) interrompe uma festa e pede ao conjunto para tocar um tango. Entra Ubirajara com o seu bandoneon, inicialmente sob os apupos da platéia jovem, e em seguida emocionando a todos com um som maravilhoso. Regina Duarte e Antônio Fagundes dançam emocionados, sob os olhares curiosos da platéia.
Por um momento, os músicos são alvo de atenção, mas ninguém percebe que aquele bandeonista perfeito é o pai de Taiguara. Veterano da noite, acostumado a essa relativa indiferença, Ubirajara faz a sua parte, garantindo os volteios dos dançarinos.

No dia 14 de outubro de 1997, Ubirajara me explicou as origens musicais de Taiguara, que são as mesmas do pai e do avô:

“Eu era um cara que só trabalhava. Fui músico, sempre músico. Houve uma época em que eu tinha uma certa projeção, pois a música instrumental era ouvida com respeito. Nós tínhamos Waldir Azevedo, Dilermando Reis, Rago, Jacob do Bandolim, Chiquinho do Acordeon, Antenógenes Silva, Caçulinha, Silvio Mazzuca, Severino Araújo, Radamés, muitos instrumentistas. Eu era acompanhante de artistas, em shows e em gravações. Muitas vezes acompanhei Ângela Maria, Agnaldo Timóteo, Elis Regina...hum, são tantos que a lista ficaria cansativa. Mas tinha também o Ubirajara e seu Conjunto, que durou 30 anos. Cansei de ser “papai” dos coleguinhas músicos. Agora só toco sozinho”.

Como o senhor, um músico famoso, encara o fato de ser chamado de pai de Taiguara?

“ Quando Taiguara começou a estudar, o pessoal dizia: olha, você viu aquele garoto? É o filho de Ubirajara! Aí o Taiguara começou aquela ascensão vertiginosa e eu passei a ser o pai de Taiguara. Mas nunca me fez mal nenhum. Isso absolutamente nunca me incomodou, ao contrário. Sempre tive muito orgulho dele e dos discos que ele gravou e em todos os discos sempre tem uma faixa em que eu toco bandoneon.”

A que o senhor atribui o esquecimento de Taiguara, a menos de dois anos de sua morte?

“Depois que Taiguara voltou a cantar, a mídia passou a ignorá-lo, como até hoje o ignora. Houve aí uma rejeição, em relação ao comunismo, socialismo, enfim, suas posições políticas. Taiguara criticava personalidades ainda vivas. Ele não poupava nem a Rede Globo, que tanto o promoveu no início de sua carreira. Pode ser que um dia venha um reconhecimento por tudo o que ele fez. Não sei se o Brasil vai mudar, parece que está mudando para pior, mas um dia pode ser que mude para melhor.”

Taiguara chegou a ser preso alguma vez?

“Uma vez ele sumiu no Rio. Eu estava em São Paulo. O avô dele me telefonou comunicando seu desaparecimento há dois dias. Quando eu me preparava para viajar, abandonando todos os meus compromissos, o avô me telefonou dizendo que Taiguara já estava com ele. Suponho que foi uma prisão de advertência, como se a polícia quisesse dar algum recado. Ele teve muitas dores de cabeça. Foi muitas vezes desacatado.”

Ele teve alguma briga com Flávio Cavalcanti?

“Flávio era muito polêmico. Tinha aquele negócio de ouvir o disco e quebrá-lo na frente das câmaras. Eu não gostava dele, mas ele nunca quebrou um disco de Taiguara. Como Chacrinha e outros apresentadores, Flávio era um aproveitador, o negócio dele era aparecer, virar notícia, aproveitando as novidades, os novos valores, qualquer coisa. Isso acontece até hoje.”

E as mulheres de Taiguara, como o senhor analisa o fato dele ter sido casado três vezes?

“Eu prezo qualquer uma delas. Foram companheiras de Taiguara, deram a ele a felicidade que puderam dar, eu respeito as três. Taiguara gostava de mulheres com quem pudesse conversar, que tivessem um conteúdo cultural. Se existe algum desentendimento entre elas, não sei nem me interessa saber. Divergências e desentendimentos são naturais entre seres humanos.”

Por que ele nasceu no Uruguai e não em Porto Alegre?

“São coisas da vida. A vida vai empurrando a gente. Pra onde o vento empurra a gente vai. Como brasileiro, e tendo que optar por uma outra cidade eu fiquei dividido: Rio de Janeiro, o grande centro político e social do país, ou Buenos Aires, a terra do tango que eu tocava tão bem quanto eles. O que é que eu faço? Em Buenos Aires eu teria grandes oportunidades. Poderia ficar rico tocando tango. Mas o argentino na época, muito mais do que agora, não era muito simpático aos brasileiros. E embora eu tocasse a música deles tão bem quanto eles, eu sentia uma certa rejeição. Todas as vezes em que eu fui tocar lá, senti certa discriminação, e sofria com isso. Daí fui para Montevidéu. Lá conheci a cantora Olga Chalar, a mãe de Taiguara.”

Quem primeiro apoiou a carreira de Taiguara?

“Muita gente. Zimbo Trio, por exemplo. Eu me lembro que o primeiro disco de Taiguara foi produzido praticamente por Luís Chaves, contrabaixista do Zimbo Trio, que fez os arranjos. Foi a maior orquestra colocada em estúdio na época. A maior quantidade de músicos numa gravação, uns 40. Taiguara não subiu degraus. Jogaram-no para cima e ele ficou lá. Isso de certa forma não foi bom, porque o bom é quando você galga os degraus um a um. A Philips deu todo apoio que você possa imaginar, apesar dele ser apenas um menino que ainda estava na escola. Era um acadêmico. Fazia Direito no Mackenzie. Eles vislumbraram ali um artista. Neste primeiro disco, feito antes dos festivais, tem “Samba de copo na mão”, o primeiro sucesso dele. Depois vieram “Hoje”, “Universo do teu Corpo” e todos os que você já sabe.”

Qual sua participação nos discos de Taiguara?

“Eu nunca pressionei. Sempre esperei que ele tomasse a iniciativa de me chamar. Em cada disco tenho uma participação, pelo menos em uma faixa, com meu bandoneon. Mas eu tinha minha atividade isolada. Tive um conjunto durante 30 anos; cansei, e passei a trabalhar sozinho, razão pela qual acho que ainda vou viver uns dez anos.”

De que exatamente o senhor se cansou?

“Com o decorrer dos tempos, aqueles músicos que eram dóceis, educados, com o rock passaram a andar com camisa aberta no peito, medalha pendurada no pescoço, brinco na orelha, barba por fazer, chinelo, aí o mundo começou a ficar muito chato. Eu sou um conservador, sou de uma época em que os músicos se vestiam tudo igual numa orquestra. Foi aí que eu desfiz o Ubirajara e seu Conjunto e fiquei sozinho. Até hoje recebo convites para tocar, mas sempre toco sozinho. Dá menos trabalho, não preciso reunir uma turma, esperar um e outro.”

Alguns shows inesquecíveis

O ano de 1973 foi produtivo para Taiguara. Ele alugou por Cr$ 1 mil nada menos que um enorme convento no município do Embu, em São Paulo. O convento tinha 30 quartos e 10 banheiros. Lá se instalaram todos os componentes do conjunto, “A Transa”: o próprio Taiguara, piano e órgão; Tibério, baixo acústico e elétrico; Marlui, percussão, guitarra e violão; Jorginho Campos, bateria; Nivaldo Ornelas, flauta (convidado especial).
À noite, o conjunto tocavam no Boteco, na capital paulista. O show chamava-se “A Transa de Taiguara”, dirigido por Cláudio Mamberti.
Em sua carreira, Taiguara realizou muitos shows inesquecíveis. Relembrar todos seria cansativo, mas citemos alguns, pelo menos os mais marcantes, começando por “Primeiro Tempo 5X0”, sucesso garantido, tendo como produtores uma dupla de grande sucesso e penetração naquele tumultuado 65 pós revolução. Antes, Taiguara havia participado do Festival Mc-Dam de Jograis, com Vinícius, Toquinho, Chico Buarque e outros. Com o Sambalança Trio cantara muitas noites no João Sebastião Bar, em São Paulo.
Em 1970 fez um show baseado no LP Viagem, da Odeon, em que lançaria seus primeiros grandes sucessos.
Três anos depois fez um dos mais importantes show de sua carreira, no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, e na boate Pigalle, do Rio de Janeiro. O show teve por título o LP então lançado: “Fotografias”, e tinha uma ficha técnica impecável: Taiguara (piano, órgão, arranjos), Claudio Mamberti (direção), Tibério e César (baixo acústico), Marlui (percussão, guitarra, violão), Jorginho Campos (bateria), Nivaldo Ornelas (flauta, convidado especial), Antônio Guerreiro e David Zingg (decoração e fotografia).
Claudio Mamberti, conhecido ator e diretor de teatro, utilizou técnicas teatrais no espetáculo, incentivando os músicos a integrar o ambiente. Taiguara, por sua vez, propunha-se a mostrar sua verdadeira imagem, que ele supunha diferente daquela o tornara conhecido, conforme confessara a Ivan Migliaccio (Folha de S. Paulo, 13 de junho de 1973): “Trabalhar em televisão é o mesmo que ficar parado. Você tem razão. A gente não perde nem acrescenta nada às coisas que faz, e além de tudo é desgastado pela máquina e pelos indivíduos, desesperadamente.”
Taiguara vinha de dois anos de viagem e trouxera dos Estados Unidos o melhor que havia em equipamentos de som. “Foi a primeira vez no Brasil que um artista se apresentou com equipamentos de primeira linha”, conta o empresário Genildo Fonseca, que cuidava de Taiguara. Segundo ele, foi a partir deste show que os outros cantores, os outros empresários e as gravadoras passaram a utilizar eletrônica nos shows em maior escala. A própria Gianinni, fabricante de equipamentos musicais, passou a utilizar o som desse show como paradigma.
Taiguara estava entusiasmado com a novidade. E para evitar problemas com a censura, optou por um show essencialmente musical, sem muito texto.

Viagem sem retorno aos ideais políticos

Não é tarefa fácil precisar exatamente quando Taiguara deixou de ser o cantor romântico para tornar-se baluarte de conquistas sociais. Essa tendência, conforme ele confessa em várias entrevistas e o próprio pai me confirmou, vem do avô Glaciliano, que em sua simplicidade e à sua maneira, era um socialista convicto. E Taiguara conviveu muito com o avô.
Um dos maiores sucessos de Taiguara, composto em 1968 e gravado em 1969, já expressa sentimentos difusos, com sutis insinuações de revolta, tipo “hoje trago em meu corpo as marcas do meu tempo/meu desespero a vida num momento/a fossa, a fome, a flor, o fim do mundo”. Mas essa era uma explosão sentimental.
Com acesso a Vinicius desde os 13 anos de idade, Taiguara imitava Elvis Presley na escola, por modismo, mas ouvia Dolores Duran, Sílvio Caldas, Luís Vieira, por aí afora. Ao mesmo tempo, poeta sensível, forjava seu espírito na fonte do romantismo exacerbado, misturando a fome da maioria da população com a sede de justiça social.
Aos 17 ou 18 anos, ao passar a conviver mais estreitamente com Chico Buarque de Holanda, Geraldo Vandré e outros expoentes da MPB, que na época sofriam perseguição do governo militar, Taiguara provavelmente começou a fortalecer o seu, digamos, espírito de luta. Mesmo assim, ainda cantou muita música romântica, durante e após o período dos festivais.

As origens afro e ameríndeas

Uma das características da personalidade de Taiguara era sua preocupação com as raízes do povo brasileiro. Durante muitos anos, paralelamente à sua carreira artística, Taiguara dedicou-se ao estudo do homem, especialmente às raízes afro e ameríndeas, tendo como um de seus “orientadores” ou “inspiradores” figuras como o sociólogo Florestan Fernandes, o economista Caio Prado Júnior e principalmente o político Luís Carlos Prestes, em quem se espelhava a quem ouvia com grande assiduidade.
Um de seus interlocutores mais freqüentes foi o professor Celso Prudente, diretor do Pólo Cultural de São Paulo (leia-se Parque Anhembi), onde são realizados os desfiles das escolas de samba no carnaval e outros eventos importantes da capital paulista. Celso Prudente já foi cotado para o cargo de Secretário Municipal de Cultura, que somente não ocupou por injunções políticas conhecidas. Como se sabe, o ex-prefeito Paulo Maluf recomendou ao prefeito Celso Pita a manutenção de Rodolfo Konder, cujo trabalho interessava porque abria uma espécie de fenda nas correntes de esquerda, sabidamente antimalufistas.
Paulistano, Celso Prudente morou durante muitos anos no Rio de Janeiro, atraído pelo caldeirão cultural que fervilhava na antiga capital federal. Era o Rio de Machado de Assis, de Pixinguinha, das escolas de samba e de tantas manifestações artísticas que interessava ao professor e estudioso.
Nesse período conviveu intensamente com Taiguara, introduzindo-o nos assuntos sócio-antropológicos. Em contato permanente com o cantor, discutia também as teorias do marxismo-leninismo.
“O que diferenciava Taiguara dos outros cantores era exatamente essa preocupação com o social, que ele deixava transparecer nitidamente em suas poesias, em suas apresentações, na mesa do bar ou em reuniões de qualquer tipo”, conta Celso, que ainda se lembra de um episódio marcante na carreira de Taiguara. Foi quando os mais famosos compositores brasileiros se reuniram no Rio de Janeiro para discutir as principais questões da categoria, especialmente direitos autorais e censura. Taiguara fechou o tempo com um discurso radical em defesa das liberdades democráticas e sobre o papel do compositor enquanto ser pensante e como ser político. Celso também interveio, colocando-se ao lado de Taiguara, mas se dedicando aos aspectos relacionados com as raízes culturais do povo brasileiro, principalmente às raízes afro e ameríndeas. Taiguara estava afinado em tudo com as idéias de Celso, que durante muito tempo foi seu grande amigo e uma espécie de guru.
Celso chegou a iniciar um filme sobre a vida e a obra de Taiguara, com a colaboração de amigos comuns. O filme ainda está nos planos dele e deve sair oportunamente. Salvo se suas novas atividades como diretor da União Americana de Carnaval, que assumiu dia 1o de março de 1998 juntamente com Ricardo Cravo Albim, atrapalhe seus planos. Em sua Enciclopédia da Música Popular Brasileira, edição de luxo da Funarte, Ricardo, crítico de música do Jornal do Brasil durante muitos anos e possuidor de um dos maiores arquivos particulares de MPB, situa Taigura como um dos grandes cantores brasileiros. Já o cinema fez parte das atividades multiprofissionais de Taiguara, conforme veremos a seguir.

MORTE SEM MISTÉRIO

Não houve nenhum mistério em torno de sua morte. Foi uma morte anunciada. Mesmo assim, como acontece ainda hoje com Tancredo Neves, Castelo Branco, Marcos Freire, Juscelino Kubtscheck e outros grandes nomes, ainda há quem acredite em boatos. Há quem pergunte de que morreu mesmo Taiguara.
Como ele não cuidava da saúde? Sua alimentação era racional? Não há registro de abusos de drogas e álcool. Havia um médico de família, quem?
O desespero de quem não queria morrer foi acompanhado de perto por Ana Lasevicius, cujo depoimento vem a seguir.

Þ DEPOIMENTOS E ENTREVISTAS

Um caso de amor quase à primeira vista

O encontro de Ana Lasevicius com Taiguara seria uma história de amor trivial, não fossem algumas peculiaridades. Eles não se conheciam até o dia em que se encontraram nos corredores da Rádio e TV Bandeirantes, em São Paulo, no programa Novos Talentos, apresentado por Caçulinha, em 1985. Taiguara estava ali também para acertar detalhes de um show que faria no Auditório Elis Regina, do Pólo de Arte Anhembi, em São Paulo. Era o primeiro show após um jejum de “13 Outubros”.
Ana acompanhava uma cunhada, que era cantora e ia gravar um disco. Não era empresária dela, apenas a acompanhava, ajudando-a no que fosse possível. Como estudante de Comunicação, era uma interessada pelas atividades artísticas e seus bastidores. Sua cunhada (nome dela) participava das eliminatórias do programa de Caçulinha, que não era exatamente um programa de calouros, pois seus concorrentes já tinham alguma experiência. Era um programa que julgava e premiava cantores, atores, locutores e apresentadores, os quais teriam como prêmio o exercício de suas respectivas habilidades. Era uma espécie de parada de sucesso que selecionava os melhores. O melhor cantor, naturalmente, grava um disco, como chegou a acontecer com a cunhada de Ana.
Por coincidência, ela participara do tal programa cantando exatamente composições de Taiguara (que músicas?).
Ana conhecia a música de Taiguara, de quem na verdade era fã. Mas não o conhecia pessoalmente. Ouvia seus discos, na verdade uma coletânea de seus sucessos, que não tinha fotos dele. Por isso, conversou com ele alguns minutos sem saber quem era o seu interlocutor. ZNão tinha importância, eram duas pessoas matando o tempo numa sala de espera. Até que sua cunhada percebeu e avisou que era o Taiguara, o compositor das músicas que ela defendia no programa.
Ana fez amizade com ele e chegou a ir ao show do Anhembi, que a TV Bandeirantes gravou na íntegra e mostrou algumas vezes, em datas nobres. Mas a amizade entre os dois só se aprofundaria um ano depois, quando Taiguara voltou a São Paulo para se apresentar no Teatro Maksud. Dois ou três meses depois de um namoro apaixonado, houve o casamento no Uruguai, em julho de 1987. O casamento tinha de ser fora do país porque no Brasil Taiguara era casado com Geisa.
Sua família não aprovava o casamento. Primeiro porque a decisão tinha sido muito rápida. Segundo pelo que rolava nos bastidores. Taiguara era tido como meio doido, estava no ostracismo, era confundido com hippie, maconheiro, coisas do tipo. Mesmo assim, foram em frente. Taiguara enfrentou corajosamente a família de Ana e comunicou pessoalmente aos pais dela a intenção de se casarem. Foi um susto. Mas pouco a pouco a família apoiaria a união, especialmente depois de conhecer melhor o cantor, de resto uma figura inteligente e cativante.
Após o casamento, os dois foram morar na rua Venâncio Flores, esquina com a rua Ataufo Paiva, no Leblon. O apartamento, alugado, ficava em cima do Luna, restaurante freqüentado por artistas e intelectuais. Uma curiosidade: como a cozinha era muito pequena e Ana não era exatamente uma mulher de prendas domésticas, o pessoal do Luna preparava as sopinhas do Guarani, o único filho do casal, nascido em 1988.
O apartamento era ao mesmo tempo estúdio, escritório e dormitório, lembra Ana, que também fazia refeições no Luna, com Taiguara e Guarani, naturalmente. Foi um período de muito trabalho e pouco dinheiro. Afinal, Taiguara estivera afastado muito tempo. Estava retomando a vida artística e deu a sorte de encontrar uma companheira dedicada, que aos 25 anos enfrentara a própria família para dedicar-se a um artista relativamente apagado, perseguido e sem dinheiro.
A carreira estava sendo retomada. Mesmo sem contar com os festivais, Taiguara tinha um público muito fiel. “Nossa dificuldade era com a mídia”, lembra Ana, que tinha dificuldades em divulgar os shows nos jornais e em emissora de rádio. Eles temiam dar espaço ao cantor, porque sabiam que entraria em cena o político, com seu discurso anticapitalista. “Ele não separava as coisas”, conta Ana, e sempre que lhe abriam uma brecha, lembrava os aspectos políticos de suas letras. Antes de qualquer apresentação, ele se preocupava em ouvir, em ondas curtas, as notícias da França, de Portugal, de Moscou ou da BBC de Londres, para informar-se sobre a situação dos povos do mundo. Aí, dava o seu recado, fresquinho, falando coisas que não estava em nenhum jornal, que ele acaba de ouvir pelo rádio.
Perguntei a Ana por que Taiguara pulou do sucesso dos festivais para o meio esquecimento que praticamente amaldiçoou sua carreira. Ela foi franca e objetiva:
“Com suas atitudes às vezes radicais, mas sempre coerentes, Taiguara conquistou alguns inimigos e foi muitas vezes perseguido e boicotado. Mas em nenhum momento ele se queixou disso. Para ele, o mais importante era contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade justa e democrática. Em sua vida ele perdeu muito, perdeu tudo, mas se manteve fiel a seus princípios e quando reclamou foi das desigualdades e da má distribuição da riqueza entre os homens, não apenas no Brasil mas em todo o mundo.”
Ana colaborava com o artista e com o homem utilizando os conhecimentos (poucos, é verdade) adquiridos durante dois anos de estudos de Comunicação nas Faculdades Anhembi-Morumbi. Na verdade, admite que aprendeu mesmo foi na prática. Era produtora, cenógrafa, figurinista, relações públicas, fotógrafa, divulgadora - fazia de tudo, sempre com o objetivo de ajudar o marido. “Só não cantava nem tocava nada”, afirma. Teve grande participação em dois memoráveis shows de Taiguara: no Canecão e no Teatro João Caetano, quando enfrentou todos os problemas comuns desse tipo de atividade: som alugado, luz em gambiarras, água, partitura e cavaletes para os músicos, passar o som, ensaios... Afinal, diz ela, na hora o público quer que tudo funcione, não importa o trabalho que tenha dado.
Ana teve também papel importantíssimo nos últimos anos de vida do cantor, que sofria de câncer na bexiga. Acumulava as funções de produtora com as de mulher, mãe e enfermeira. Até o fim.

LULA BRANCO MARTINS

No dia seguinte à morte de Taiguara, um dos críticos de música do Jornal do Brasil, Lula Branco Martins, escreveu:
“Eu gosto do Taiguara. Mas isso sempre foi uma coisa meio chocante. Em todas as rodas que frequentei, em todos os grupos de amigos que tive e mesmo aqui no JB, entre os críticos de música, poucos aceitavam o fato de eu gostar do Taiguara. Ele era mais ou menos um Oswaldo Montenegro de sua época, eterno incompreendido. A esquerda o considerava muito romântico e a direita, subversivo demais. Nunca foi chique gostar de suas letras e melodias.”
Mas isso não impediu que ao criticar um show realizado no Teatro João Caetano, dois anos antes de sua morte, Lula escrevesse que “seu discurso estava meio demodê”. Comentando sua própria crítica, acrescentava: “Tive que aturar longos minutos de falação anticapitalista - a meu ver, Taiguara foi se tornando, com o passar das décadas, uma figura folclórica. Aos poucos, passei a ter vergonha de contar em público que, na juventude, dando meus primeiros passos no violão, cheguei várias vezes a virar a antena da TV para fazê-la de pedestal de microfone e, assim, poder imitar Taiguara, escondido no quarto, altas horas da madrugada.”
A tal crítica do show foi publicada no dia 11 de agosto de 1994 e sua parte mais contundente é a seguinte: “... Mas o show tem muitas falhas. A voz de Taiguara, por exemplo, já não é a mesma dos prolongados agudos de suas primeiras gravações e a performance em Samba do amor denuncia isso. E o desenvolvimento do espetáculo é emperrado pelo discurso do cidadão Taiguara, que jorra frases como “no ardor quente das paixões eu me apaixonei por um país chamado Cuba”, análises como “o bondinho de Santa Teresa está quebrado por causa do sistema” e até confissões como:
“Já dancei muito rock’n’roll. Como é boa a alienação. Todos têm o direito de se alienar. Mas ao mesmo tempo não é bom abrir mão da consciência”.
Quem for ao João Caetano esperando reencontrar antigos sucesso de Taiguara vai perder a viagem, dizia o jornalista, acrescentando: “Ele não canta Modinha, Hoje, Carne e Osso, Que as crianças cantem livres e Helena, Helena. Quem quiser saber histórias de sua passagem pela Tanzânia e por Angola e ouvir seus pouco inspirados comentários políticos, vai gostar mais. Quem quer?”
Lula Branco Martins conta que foi procurado por Taiguara no dia seguinte, mas não foi encontrado. Uma pena, diz ele, pois queria contar que chegou a imitá-lo na juventude, antes de envergonhar-se de contar aos amigos que era admirador dele.
TÁRIK DE SOUZA
No mesmo dia e jornal, outro crítico, Tárik de Souza, escreveu: “Taiguara foi empurrado para o gueto de sua opção política radical, na corrente prestista de esquerda. Como sempre acontece no Brasil, após a morte do homem é possível que o artista seja reavaliado”.
SÉRGIO BITTENCOURT
“Taiguara tem o dom de complicar a vida e simplificar as canções”.

FREDERICO ROCHA
Para o grande público, um desconhecido. O médico psiquiatra Frederico Rocha foi dirigente nacional do PCB durante alguns anos. Frequentou a casa de Prestes e todos os lugares frequentados pelos comunistas. Conheceu Taiguara nos bares de Santa Tereza e Lapa, nos quais conversou muitas vezes com o cantor, naturalmente sobre seu assunto predileto: marxismo-leninismo. A preocupação com o social era a pauta do dirigente Fred, que nas horas vagas era boêmio e poeta.
Em sua constante busca de expressão artística, Taiguara se interessa muito pelos diálogos em torno da relação entre política e arte. E Fred, como poeta, era naturalmente propenso a esse tipo de diálogo. Ainda hoje o é, mas se queixa de não ter mais interlocutores como Taiguara.
Coincidência honrosa para mim: a agenda de Fred, não tão famosa quanto a de Prestes, que tanto deu o que falar durante certo tempo, tinha na letra “T” dois endereços e telefones: Taiguara e Tiné. A diferença é que eu não tinha, como Fred, a mesma capacidade de diálogo, o mesmo nível de informação sobre marxismo e arte. Lera com muito interesse e curiosidade livros, revistas e jornais sobre o assunto, como a “Revista da Civilização Brasileira”, o “Para Todos”, o “Jornal de Letras”, “Leia Livros” e toda e qualquer publicação ligada à literatura. Mas não me considerava culto o bastante para participar de debates verbais, nem mesmo em mesa de bar, onde sabe mais quem fala mais.
Fred considera Taiguara um bom poeta, um bom compositor e sobretudo e um teórico bastante lúcido do processo revolucionário.

FRASES MARCANTES

Sobre Ronaldo Bôscoli, quando criticou a aflição e a ansiedade de Taiguara:

- O Bôscoli, coitado, vive frustrado, amargurado, por não morar em Nova Iorque. Anda pela Zona Sul do Rio de Janeiro pedindo a Deus que um raio desça do céu e transforme o Rio em Nova Iorque. Então, como ele não consegue realizar esse desejo, vive de porre por aí, dizendo coisas que não interessam a ninguém.

Sobre a censura, que o forçou ao exílio voluntário:

- Parei de cantar em público em abril de 74. Nessa época, eu já tinha 44 músicas vetadas pela Censura Federal. Percebi, então, que não dava pra continuar. E jurei: só volto a cantar quando o poder popular assumir o governo em meu País.

Sobre arte e política, Taiguara gostava de citar o líder africano Amílcar Cabral:

- A arte é um instrumento na luta pela liberdade.

Sobre análise, era pretensioso:

- O sujeito que recebe críticas do proletariado não precisa de análise. Eu me lembro da Nara Leão antes daquela famosa psicanálise, tão divulgada pela revista O Cruzeiro. Ela era uma pessoa combativa, participava do CPC, Grupo Opinião, etc. Depois de cinco anos de análise, afirmou que “tinha se encontrado”: gravou Erasmo e Roberto.

Sobre “Universo do teu corpo”, cuja musa inspiradora ele sempre se recusava a revelar:

- Tem que ser retificados os primeiros versos, porque eu não desisto e sempre existiu o amanhã que eu persegui.

Sobre a falta de memória:

“Ainda estamos sem memória. Somos um país desmemoriado. Nossos artistas estão cantando para os militares, para as multinacionais. E isso pra mim é falta de memória. Duvido que esses artistas lembrem hoje porque entraram nessa”.

Frases ditadas a Marcos Baby Durães e Sabá, programa “Roda de Sábado”, da Jovem Pan, em 25 de outubro de 1986:

- A gente tem que trabalhar hoje para organizar a sociedade e não deixar que o imperialismo dirija a sociedade para a guerra nuclear, para o extermínio, para o aumento da concentração do capital.

Sobre a distribuição da riqueza, na mesma entrevista:

- O que está errado no nosso País é a distribuição da riqueza, é a miséria crescente a que vai chegando a nossa população.

- A gente pensa que o povo brasileiro não é capaz de lutar, de levar um ideal à frente, é alienado, indolente. A gente pensa tudo errado do nosso povo. Meu povo não é assim.
Explica que a mentira das universidades nos levou a isso, e sentencia: Essa mentira cultural é que nos mantém nessa ilusão!

Þ TAIGUARA E A INTERNET

A presença de Taiguara na rede mundial dá inveja a qualquer ídolo; ao todo, são 75 sites. Obviamente, nem todos são exclusivamente sobre o cantor, mas é o que aparece quando se digita o nome dele nos sistemas de busca.
Uma curiosidade: a maioria desses sites foram feitos espontâneamente por admiradores, sem qualquer ônus para a família; outros são feitos por empresas que se utilizam da Internet para comercializar seus produtos. A lista foi copiada no dia 28 de fevereiro de 1998. A data é importante pois a cada momento esses sites sofrem alterações. Para os viciados em Internet, um prato cheio. A presença de Taiguara nas páginas da WWW constituem importante demonstração da importância que ele teve para a MPB, com grande repercussão internacional. O leitor interessado, evidentemente, poderá aprofundar sua pesquisa nos diversos sistemas, que sugerem também a busca de três palavras separadamente, Tai guar a, conforme se lê na terceira linha a seguir.

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•E-Mail dos Alunos - Para encontrar um e-mail pressione CTRL+F e digite o nome. NOME. E-MAIL. Antônio Araújo Castro. a_araujo@mcp.yazigi.com.br. Alexandre Cesar Lima....
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•..... Toquinho - Biografia ..... - Nascido em São Paulo, Brasil, a 6 de julho de 1946 com o nome de Antonio Pecci Filho, na primeira infância a mãe o chamava de...
--http://www.cafemusic.com.br/toquinho/biografia2.htm

•No Title - Teu Sonho Não Acabou. Taiguara. C. Em. Hoje a minha pele já não tem cor. F. C. Bb. (A) G. Vivo a minha vida seja ond. e for. C. Em. Hoje entrei na dança.
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•Livro de Visita - Livro de Visita. Obrigado pela visita. Se voce tiver um tempinho e tiver a fim de deixar uma crítica, entre aqui. Ou então volte para a MPB. Melhor e mais.
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•No Title - Jungle Heat By Marianne TITLE:JUNGLEHEAT AUTHOR: by marianne DATE: April 25, 1997 to May Email: marianne@coastalway.com.br DISCLAIMER: "The X-Files" is...
--http://wsfanfic.geekspot.com/stories/JungleHeatNC17.txt

•Essencial - Brazilian Music UpToDate 2. This page in English. TAIGUARA. UM BRASILEIRO ROMÂNTICO. URUGUAIO BRASILEIRO. "O mais brasileiro dos uruguaios!" Foi...
--http://www.brmusic.com/uptodate/up2/essenc.htm

•Klébi - 1995 - nbsp; Type:CD. Label:Dabliu. Manufacturing:OT 5027. Country:Brazil....
--http://music.thebest.com.br/mpb/dabliu/klebi/klebi01.html

•Essencial - Brazilian Music UpToDate 2. Esta página em português. TAIGUARA. A ROMANTIC BRAZILIAN. A BRAZILIAN URUGUAIAN. "The most brazilian of the...
--http://www.brmusic.com/uptodate/up2/essence.htm

•Jornal 12 - Página 6 & 7 - nbsp; Clique aqui para voltar para o índice dos jornais [Página 1] [Página 2] [Página 3] [Página 4]...
--http://www.visualnet.com.br/sated/j12p6_7.htm

•b1orl - Orlando Garcia da Silva nasceu no Rio de Janeiro em 3 de outubro de 1915. Seu pai era operário nas oficinas da Estrada de Ferro Central do Brasil e tocava.
--http://www.gilbertogil.com.br/bio/b1orl.htm

•Brazilian Music UpToDate - Indice - We provide interviews, images, cd reviews, news, photos, RealAudio sound clips and a Brazilian music glossary. Covering live Brazilian concerts, our
--http://www.brmusic.com/uptodate/default_index.html


Þ Discografia

Meus Momentos


1.Gente Humilde
2.Hoje
3.Viagem
4.Universo No Teu Corpo
5.Modinha
6.Helena, Helena, Helena
7.Prelúdio Número 2 (Paz Do Meu
Amor)
8.Teu Sonho Não Acabou
9.O Velho E O Novo
10.Que As Crianças Cantem Livres
11.Berço de Marcela
12.Momento De Amor
13.Castigo
14.Piano E Viola
15.Carne e Osso
16.Amanda


Gente Humilde

Tem certos dias em que eu penso em minha gente
E sinto assim todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece de repente
Como um desejo de eu viver sem me notar

Igual a como quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem, vindo de trem de algum lugar
E ai me dá como uma inveja dessa gente
Que vai em frente sem nem ter com quem contar

São casas simples com cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda flores tristes e baldias
Como a alegria que não tem onde encostar

E ai me dá uma tristeza no meu peito
Feito um despeito de eu não ter como lutar
E eu que não creio peço a Deus por minha gente
É gente humilde, que vontade de chorar

Hoje

Hoje
Trago em meu corpo as marcas do meu tempo
Meu desespero a vida num momento
A fossa, a fome, a flor, o fim do mundo

Hoje
Trago no olhar imagens distorcidas
Pois viagens, mãos desconhecidas
Trazem a lua, a rua às minhas mãos

Mas hoje,
As minhas mãos enfraquecidas e vazias
Procuram nuas pelas luas, pelas ruas
Na solidão das noites frias por você

Hoje
Homens sem medo aportam no futuro
Eu tenho medo acordo e te procuro
Meu quarto escuro é inerte como a morte

Hoje
Homens de aço esperam da ciência
Eu desespero e abraço a tua ausência
Que é o que me resta, vivo em minha sorte

Ah, sorte
Eu não queria a juventude assim perdida
Eu não queria andar morrendo pela vida
Eu não queria amar assim
Como eu te amei



Viagem

Vai, abandona a morte em vida em que hoje estás
Há um lugar onde esta angústia se desfaz
E o veneno e a solidão mudam de cor
Vai indo o amor

Vai, recupera a paz perdida e as ilusões
Não espera vir a vida às tuas mãos
Faz em fera a flor ferida e vai lutar
Pro amor voltar

Vai, faz de um corpo de mulher estrada e sol
Te faz amante, faz teu peito errante
Acreditar que amanheceu

Vai, corpo inteiro mergulhar no teu amor
E esse momento, vai ser teu momento
O mundo inteiro vai ser teu, teu, teu...



Universo No Teu Corpo

Eu desisto,
Não existe essa manhã que eu perseguia
Um lugar que me dê trégua ou me sorria
Uma gente que não viva só pra si

Só encontro,
Gente amarga mergulhada no passado
Procurando repartir seu mundo errado
Nessa vida sem amor que eu aprendi

Por uns velhos vãos motivos
Somos cegos e cativos
No deserto do universo sem amor

É por isso que eu preciso
De você, como eu preciso
Não me deixe um só minuto sem amor

Vem comigo,
Meu pedaço de universo é no teu corpo
Eu te abraço, corpo imerso no teu corpo
E em teus braços se unem versos à canção

Em que eu digo,
Que estou morto pra este mundo antigo
Que meu porto, meu destino, meu abrigo
São teu corpo amante, amigo em minhas mãos.

Modinha

Olho a rosa na janela
Sonho um sonho pequenino
Se eu pudesse ser menino
Eu roubava aquela rosa
E ofertava todo prosa
À primeira namorada
E neste pouco ou quase nada
Eu dizia o meu amor

Olha o sol findando lento
Sonho um sonho de adulto
Minha voz na voz do vento
Indo em busca do teu vulto
E o meu versos em pedaços
Só querendo o teu perdão
Eu me perco nos teus passos
E me encontro na canção

Ai, amor eu vou morrer
Buscando o teu amor

Eu vou morrer de tanto amor.

Helena, Helena, Helena

Talvez um dia, por descuido ou fantasia
Helena, Helena, Helena
Nos meus braços debruçou
Foi por encanto, ou desencanto
Ou até mesmo por meu canto, por meu pranto
Ou foi por sexo, ou viu em mim o seu reflexo
Ou quem sabe uma aventura, até mesmo uma procura
Pra encontrar um grande amor

Mas hoje eu sei que um dia, por faltar telefonema
Helena, Helena, Helena
Nos meus braços pernoitou
Foi por acaso, por um caso
Ou até mesmo por costume, pra sentir o meu perfume
Dar amor por um programa, dar seu corpo num programa
Hoje vai e nem me chama
Um adeus é o que deixou

Talvez um dia, por esperança, ou ser criança
Deixei Helena, Helena
Com seus braços me guiar
Fui sem destino, tão menino
E hoje eu vejo o desatino, estou perdido numa estrada
Peço ajuda a quem passa, tanto amor pra dar de graça
Todo mundo acha graça deste fim que me levou

Maria Helena, e seus homens de renome
Entre eles fez seu nome, e entre eles se elevou
Foi sem amor, foi sem pudor
Mas hoje entendo o jeito desses, pra salvar seus interesses
Dar seu corpo custa nada e com o olhar de apaixonada
Em suas rodas elevadas seu destino assegurou

Talvez um dia, por desejo de poesia
Helena, Helena, Helena
Talvez queira dar a mão
Talvez tão tarde, até em vão
Quem saiba eu tenha um rumo à vista
Ou quem sabe eu nem exista
Ofereço este meu canto a qualquer preço, a qualquer pranto
Não quero amor, não se discute
Eu procuro quem me escute.



Prelúdio No 2 (Paz Do Meu Amor)

Você é isso, uma beleza imensa
Toda recompensa de um amor sem fim
Você é isso, uma nuvem calma
No céu de minh’alma , é ternura em fim

Você é isso, estrela matutina
Luz que descortina um mundo encantador
Você é isso, parto de ternura
Lágrima que é pura, paz do meu amor

Teu Sonho Não Acabou

Hoje a minha pele já não tem cor
Vivo a minha vida seja onde for
Hoje entrei na dança e não vou sair
Vem que eu sou criança não sei fingir

Eu preciso, eu preciso de você
Ah! Eu preciso, eu preciso, eu preciso muito de você

Lá onde eu estive o sonho acabou
Cá onde eu te encontro só começou
Lá colhi uma estrela pra te trazer
Bebe o brilho dela até entender

Que eu preciso...

Só feche o seu livro quem já aprendeu
Só peça outro amor quem já deu o seu
Quem não soube a sombra, não sabe a luz
Vem não perde o amor de quem te conduz

Eu preciso...

Nós precisamos, precisamos sim
Você de mim, eu de você.

O Velho E O Novo

Deixa o velho em paz
Com as suas histórias de um tempo bom
Quanto bem lhe faz
Murmurar memórias num mesmo tom

A sua cantiga, revive a vida
Que já se esvai
Uma velha amiga, outra velha intriga
E um dia a mais

Vão nascendo as rugas
Morrendo as fugas a as ilusões
Tateando as pregas
Se deixa entregue às recordações

Em seu dorso farto
Carrega o fardo de caracol
Mas espera atento
Que o céu cinzento lhe traga o sol

Ele sabe o mundo
O saber profundo de quem se vai
O que não faria
Pudesse um dia voltar atrás

Range o velho barco
Lamento amargo do que não fez
E o futuro espelha
Esse mesmo velho que são vocês



Que As Crianças Cantem Livres

O tempo passa e atravessa as avenidas
E o fruto cresce, pesa e enverga o velho pé
E o vento forte quebras as telhas e vidraças
E o livro sábio deixa em branco o que não é

Pode não ser essa mulher o que te falta
Pode não ser esse calor o que faz mal
Pode não ser essa gravata o que sufoca
Ou essa falta de dinheiro que é fatal

Vê como um fogo brando funde um ferro duro
Vê como o asfalto é teu jardim se você crê
Que há sol nascente avermelhando o céu escuro
Chamando os homens pro seu tempo de viver

E que as crianças cantem livres sobre os muros
E ensinem sonho ao que não pode amar sem dor
E que o passado abra os presentes pro futuro
Que não dormiu e preparou o amanhecer...



Berço De Marcela

Um dia Marcela se achou e se deu
Seu corpo sem vida, me amou e foi meu
Das dores vencidas nasceu a mulher
Que sabe porque, que se abre e se vê
E hoje me faz viver
E hoje me faz saber

Que os homens, por pressa, por medo de amar
Passaram por ela sem nada encontrar
Levaram consigo o engano de quem não viu
Nem sabe do que fugiu
Da estrada, da estrela
Ficaram comigo seus medos se dando aos meus
No berço onde renasceu Marcela.

Momento De Amor

Neném, eu percebi quando te amei
Teu medo foi maior que o teu amor, neném
Neném, abre o teu peito e diz pra mim
Tudo que te faz temer assim

Neném, dor que se guarda fere mais
Faz medo, desespera e esfria o amor, neném
Meu bem, faz no leito um sol pra nós
Faz da tua treva o amanhecer

Vida é só uma estrada e vai levar
Aonde o teu amor puder
Vida é teu momento de entregar
É dentro de você, mulher

Neném, agora sim num corpo só
Os nossos corpos sós vão se encontrar no amor
Amor, agora sim eu vou te amar
Mais do que te amar vou te saber

Assim, meu colo acolhe a tua mão
E colhe em tua mão o tato bom do amor
Assim, meu braço estreita o nosso amor
Deita sobre o teu o meu viver

Quero, e esse é o momento de alcançar
Vir junto e mergulhar no amor
Quero, deixar no mundo do teu ser
No fundo do teu ser, o amor
Comigo agora, vem, vem, vem neném

Castigo

A gente briga,
Diz tanta coisa que não quer dizer
Briga pensando que não vai sofrer
Que não faz mal se tudo terminar

Um belo dia,
A gente entende que ficou sozinho
Vem a vontade de chorar baixinho
Vem o desejo triste de voltar

Você se lembra?
Foi isso mesmo que se deu comigo
Eu tive orgulho e tenho por castigo
A vida inteira pra me arrepender

Se eu soubesse
Naquele dia o que sei agora
Eu não seria este ser que chora
Eu não teria perdido você

Piano E Viola

Olhando um dia de chuva
Vi que mais triste era eu
Que sem estrela e sem lua
Te procurava no céu

Fiz do piano a viola
Fiz de mim mesmo um amigo
Fiz da verdade uma história
Fiz do meu som meu abrigo

Quem canta fala consigo
Quem faz o amor nunca quer ferir
Quem não fere vive tranqüilo
Vê muita gente sorrir

E quem não estiver do seu lado
A quem ama e quer ser feliz
Não diga que não se importa
Diga só o que o amor lhe diz

Essa mentira é uma espuma
Que se desmancha no ar
E deixa n’água um espelho
Pra você se ver chorar

Sorriso bom só de dentro
Ninguém é bom sendo o que não é
Eu pra ser feliz com mentira
É melhor que eu chore com fé.

Carne E Osso

Eu quero sim
Eu quero coisas novas
Mas o que eu procuro mesmo são mais vidas
Eu grito sim
Mas grito meu lirismo
E o meu grito vai sanar minhas feridas

E a música e a mística
Aplicam sangue novo no meu ser
Calo a minha dor
E o lúcido, e o válido e o sólido
Vão matar você que evita o seu amor

Por isso eu vou
Trazer você comigo
Programar o amor em seus computadores
Vou mais além
Eu morro mas consigo
Germinar a minha flor em seus rancores

Nem dúvidas, nem dívidas
Jamais vão destruir a minha flor dentro de você
Que cérebro, que máquina?
Conseguem fazer mais que um grande amor dentro de você

Saiba quem agride a minha lira
Quanto mais ferida, mais diz o que sente
Ainda vou ouvir você dizer pra mim, eu amo sim
Sou carne, sou osso, sou gente

Amanda

Amanda,
Vencido em meu castigo
Eu trago a paz comigo
De volta pra ficar

Amanda
Recolhe os meus pedaços
Me acolhe nos teus braços
Toma o espaço desta dor e o teu lugar

Amanda
Perdi pela viagem
As forças, a coragem
A imagem do que eu sou

E o que eu sou
O que escondeu a única verdade
O que perdeu a última metade
Amanda, o que partiu e desertou

Te amando
Vou esquecer a inútil liberdade
Que eu sonhei ver nas luzes da cidade
Amanda, vou te enfeitar de tanto amor


Þ Fontes consultadas:
Þ
Livros:
“Chega de Saudade”, Ruy Castro, Cia. De Letras, 1994
“Enciclopédia da Música Popular Brasileira”, Ricardo Cravo Albim, Funarte, 1997
“Toquinho, 30 anos de Música”, João Pecci Filho, Maltese, 1996
“Ler, Pensar e Escrever”, Gabriel Perissé, Editora Arte e Ciência, 1996
“O Cavaleiro da Esperança”, 34a. Edição, Jorge Amado, Editora Record

Revistas: Amiga, Contigo, Manchete, Veja, Fatos e Fotos
Jornais: Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo, O Globo, Correio da Manhã, Tribuna da Imprensa

Arquivos: TV Cultura, Rádio Jovem Pan, Editora Abril/Departamento de Documentação, Funarte, Acervo do pesquisador Assis Ângelo.

COMO COMEÇOU ESSA HISTÓRIA

A idéia de tentar resgatar a imagem de Taiguara surgiu do boom de biografias que vem proliferando nos últimos anos. Ruy Guerra com Nelson Rodrigues e Mané Garrincha, Regina Echeverria com Elis Regina, Assis Ângelo com Luís Gonzaga, José Nêumanne Pinto com Luiza Erundina, Jon Lee Anderson com Che Guevara, Fernando Moraes com Olga e Chateaubriand, Jorge Caldeira com Visconde de Mauá - são apenas alguns exemplos de lançamentos recentes, avidamente disputados por compradores num país sem tradição de leitura mas que vem recebendo certo impulso através de faculdades e jornais.
Saíram também biografias de Cazuza - Só as Mães São Felizes - por Lucinha Araújo e Regina Echeverria, de Elza Soares - Cantando Para Não Enlouquecer - de José Louzeiro e Lenin Novaes, de políticos e de vários outros artistas. O aparecimento, particularmente em São Paulo, de livrarias tipo supermercado, estimulou a venda de livros como se fossem legumes e verduras. Não se sabe se tais livros vão para a cabeceira do comprador ou se viram objeto de decoração, mas com certeza o lançamento festivo de novos livros se transformou numa exigência quase diária das grandes livrarias, que desencadearam uma série de megaeventos - lançamentos de livros com coquetéis, shows, desfiles moda, qualquer coisa para chamar a atenção. Em sua edição no 43, de 27 de outubro de 1997, a revista Veja São Paulo, carinhosamente chamada de Vejinha, classifica como Oba-Oba das Letras o lançamento freqüente de novos livros, sempre com vinho branco à vontade e noite de autógrafos.
Nasceu, por outro lado, saudável concorrência entre editores, contribuindo ainda mais para o surgimento de novidades editoriais, discos, filmes e outras manifestações artísticas. Em 1997 houve até o lançamento de um livro com o roteiro de um filme. Mais de um, aliás.
É evidente que dessa enxurrada de livros nem tudo vale a pena ser lido. Há trinta anos em Paris fazendo psicanálise, o médico brasileiro Paulo Fernando de Queiroz Siqueira orgulhava-se de quase nunca ter lido uma biografia. Prefere o coletivo. Acha perda de tempo dedicar atenção a um indivíduo, quando toda uma sociedade está a exigir interpretação. Mesmo em seu trabalho de psicanálise, prefere os grupos.
Tal posicionamento radical e isolado não impede que o fenômeno continue proliferando, inclusive e principalmente nos outros países. As figuras brasileiras inexistem no primeiro mundo, onde Paulo Coelho é senhor absoluto das vendas. Aqui, ilustres desconhecidos como o médico Matinas Suzuki, pai do jornalista do mesmo nome que apresentava o programa Roda Viva, da TV Cultura, aventuram-se lançando a história de suas vidas. E às vezes certas memórias viram best-sellers.
Por trás de toda biografia há um fanático, ou uma viúva. Às vezes mais de um fanático e mais de uma viúva. Todos querem reconstituir a imagem de seu ídolo à sua moda, transformando-o em herói ou vilão, conforme o amor ou o ódio que restou da convivência. Não é este o caso.
Um artista é amado por muitas mulheres. E ama muitas mulheres. Ama o ser humano. Ama o mundo. Daí ser difícil conciliar tanto amor e sujeitar-se às amarras de um casamento convencional. Taiguara amou pelo menos três mulheres, e provavelmente achou pouco. Nesse sentido, imitou um de seus ídolos, Vinícius de Moraes, e Toquinho (antes do casamento), que não podiam ver um rabo de saia.
Resgatar sua história é pois uma necessidade, não apenas diante da avalanche de biografias que vem surgindo, mas principalmente devido a importância de sua obra, esquecida pela mídia. Fique claro, porém, que não se trata de uma biografia completa. Tudo o que consegui reunir sobre Taiguara é pouco para descrever com precisão sua trajetória.
Infelizmente, a pressão das gravadoras sobre os disque-jóqueis para tocar determinados lançamentos continua sendo um rolo compressor muito mais pesado do que o valor artístico dos discos. A imposição das músicas internacionais antecedeu a globalização que hoje predomina no comércio em geral. Talvez por essa razão os admiradores de suas músicas não consigam escutá-las em emissoras de rádio, tampouco em tevês. Nem o lançamento, em novembro de 1998, do primoroso disco “Claudya canta Taiguara” conseguiu reerguer o prestígio do ex-protegido da Rede Globo.

A marca da coerência

A marca registrada da vida de Taiguara foi a coerência, pois ele se manteve fiel até o fim à ideologia que abraçou. Foi classificado de stalinista, por causa de seu posicionamento radical de esquerda e escreveu sobre arte popular no jornal “Hora do Povo”, do Movimento Revolucionário 8 de Outubro - MR-8. Mas ele não era radical apenas politicamente. Era exigente também consigo mesmo e com suas composições, arranjos e apresentações. Exigia disciplina de seus acompanhantes, fato confirmado por todos os que presenciaram os ensaios de suas gravações e de seus shows.
“Ele era implacável nos ensaios, mas fora disso era de uma ternura só, como nas canções”, conta Ana Lasevicius, terceira e última esposa, produtora de seus últimos shows e companheira fiel dos últimos oito anos da vida que matou Taiguara.
Um radical à moda de Ernesto Che Guevara, mas exclusivamente quanto ao dito que virou refrão e chavão das esquerdas: Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamais. Sim, porque ao que consta, Taiguara era incapaz de pegar numa arma. Poder-se-ia dizer que ele era um guerrilheiro da palavra, ou um cancioneiro da esperança. Suas armas eram as letras de suas músicas - verdadeiras poesias - o piano, o violão, o bandoneon, os tambores, qualquer coisa que emitisse um som emocionado, à moda latina ou africana.
Como repórter de Contigo e Intervalo (revistas da Editora Abril) freqüentei a casa de Antônio Marcos (Pensamento da Silva) e Vanusa, quando Taiguara também vivia por lá, no bairro de Santo Amaro. Ficava atônito, às vezes, em meio à discussão que tanto poderia começar pelo mau gosto da estátua de Borba Gato, ali pertinho, como enveredar pela linguagem rebuscada da literatura, das artes visuais, da poesia. A discussão em torno da estátua é uma das mais comuns entre os pretensos intelectuais paulistanos. É considerada feia, alguns a chamam de monstruosa, mas mesmo assim constitui um marco da vida paulistana, ou pelo menos o mais importante símbolo do bairro de Santo Amaro, na pior das hipóteses.
Naquela época, embora já se comesse muita massa em São Paulo, ainda não estava consagrada a expressão tudo acaba em pizza. Tudo acabava em cerveja, conhaque ou uísque, conforme a disponibilidade do momento. A preocupação com comida não subia à cabeça em momentos tão grandiloqüentes quanto a discussão entre a arte e a vida. Tudo muito pretensioso, mas nada científico.
Claro, aquelas discussões também me interessavam por causa de certa identificação com a temática. Mas quase nada daquilo transparecia nas matérias que fazia. Conforme orientação editorial, tinha de falar do gosto dos artistas - a cor, o carro, a comida preferidos, coisas do gênero. As eventuais preferências políticas do entrevistador e dos entrevistados não figuravam nas reportagens, que se propunham apenas a despertar ilusões e obviamente vender milhares de exemplares.
Contigo chegou a tirar 500 mil exemplares por mês. Intervalo vendia em torno de 70 mil por semana e foi fechada em 1974 porque dava prejuízos à Abril. Roberto Civita comunicou a decisão aos 50 jornalistas afirmando que ela chegara a “um túnel sem saída”. Mas isso é outra história.
Conheci uma das três viúvas de Taiguara - Ana Lasevicius - meio por acaso. Foi numa dessas oficinas literárias de São Paulo, o Projeto Mosaico, do professor Gabriel Perissé. Ex-revisor da Editora José luO Olympio, Gabriel abandonou a profissão no Rio de Janeiro para fundar o tal projeto, que pretende transformar em uma Organização Não Governamental (ONG), dedicada ao incentivo à formação de escritores, revisores e professores.
A maioria dos alunos de Gabriel é constituída de artistas plásticos, jornalistas, intelectuais desempregados, donas de casa com sonhos literários, cada um deles com uma idéia na cabeça e nenhuma câmara na mão. No máximo, cada um leva debaixo do braço um livro de poesias, inédito naturalmente, ou um calhamaço de memórias, diários, anotações, projetos. Após algumas aulas sobre a arte de escrever, os trabalhos são discutidos em classe, selecionados, e eventualmente saem numa antologia anual.
Foi Gabriel que me aproximou de Ana. Pragmático, sugeriu que ao invés de memórias de um jornalista desconhecido, eu trabalhasse a memória de Taiguara, figura conhecida e que tem lá seus admiradores. Na pior das hipóteses, uma história muito mais viável, sob todos os aspectos. Nada mais convincente.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

DO OUTRO LADO DO BALCÃO

Em várias oportunidades estive de um lado e de outro do balcão. Muito jovem ainda, para custear minhas próprias roupas e sapatos, fui balconista de tecidos e de farmácia, em Gravatá (PE), porque meu pai, como todo nordestino que se preza, tinha oito bocas para sustentar.
Mais tarde, como jornalista profissional, conheci a expressão “do outro lado do balcão” com outro significado. Não era o vendedor que media brim ou aviava remédio para dor de barriga. Era o jornalista que saíra da grande imprensa para as assessorias de imprensa, vestindo a camisa da empresa para a qual trabalhava.
Das redações de revistas e jornais, onde menosprezava os “press release”, passei a produzi-los na esperança de que a mídia os transformasse em notícia, justificando assim o meu ganha-pão. Para minha sorte, sempre atuei em grandes empresas ou instituições, o que facilitava a aceitação de meus trabalhos. Na verdade, em alguns casos, era assediado com enorme freqüência para ajudar nisso ou naquilo, no caso do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, cujo renome antecede ao início de minha atuação como assessor de imprensa.
Em 21 anos de HC freqüentei centenas de cursos das mais variadas áreas da saúde, acumulando experiência senão científica, no rigor do termo, no mínimo de grande interesse e valia para o exercício da missão de bem informar. Acompanhei atendimentos médicos in loco, inclusive a realização de partos, transplantes e procedimentos de emergência. Pressionado pela mídia, infiltrava-me nos centros cirúrgicos até o limite possível, com autorização, para fazer o elo entre a administração e os jornalistas.
Graças a essa convivência compulsória suponho ter conseguido administrar tais eventos, adquirindo o controle emocional necessário nessas circunstâncias.
Isto é um fato. Outra coisa é estar outra vez “do outro lado do balcão”, não mais como observador, mas como paciente. Vejo-me na contingência de sofrer uma intervenção cirúrgica, sabendo de antemão causas e conseqüências.
Resta-me confiar nos médicos e na ciência, que poderão garantir minha sobrevivência por mais alguns anos e permitir que eu possa continuar levando os cinco netos à escola pelo maior tempo possível.

São Paulo, 28 de abril de 2008

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

MÉDICOS E LITERATURA (I)

A exposição sobre a vida e a obra de Gilberto Freyre na Estação da Luz, no mesmo espaço em que se encontra outra mostra de grande interesse sobre a Língua Portuguesa, enseja a oportunidade de discutirmos a relação entre Medicina e Literatura. É que na imensa obra do escritor pernambucano, autor de mais de 80 livros, há um trabalho muito especial sobre “Médicos, Doentes e Contextos Sociais”, publicado pela Editora Globo em 1983, mas ainda hoje de grande valia para quem estuda o assunto.
A edição italiana foi considerada pela crítica européia como “obra pioneira, em língua neolatina, a abordar sistematicamente o assunto complexo que é, do ponto de vista sociológico, o relacionamento médico-doente”, segundo se lê no prefácio de 28 páginas, escrito pelo próprio Gilberto em 1980.
Pouco antes de morrer, o escritor esteve internado alguns dias no Instituto do Coração, da Faculdade de Medicina da USP, onde eu era assessor de imprensa. Apesar da curiosidade natural, pela importância da personalidade internada e pelo fato de ser também do mesmo Estado, não pude especular sobre seu estado de saúde, já que havia determinação familiar em torno do seu caráter sigiloso. No fundo, o escritor tivera uma vida saudável e enfrentava as questões habituais concernentes à idade. Ponto final. Tanto é que só morreria anos depois no Recife, quando os médicos e a família se convenceram da inutilidade de buscar recursos em outros Estados.
A cidade do Recife já era um pólo médico de grande importância, não se recomendando essa busca desesperada em torno de avanços científicos.
O que chamava a atenção era a extraordinária capacidade do escritor, cuja obra é reconhecida no Brasil e fora dele. Gilberto Freyre, como se sabe, foi muito jovem para os Estados Unidos, mas em vez de ganhar dinheiro, como o fazem de hábito os emigrantes, aprofundou-se no estudo da sociologia, sendo depois professor das próprias universidades por onde passou como estudante.
Sua obra mais conhecida é “Casa Grande & Senzala”, considerada a mais completa descrição da sociedade brasileira, suas origens e formação. Por que o escritor resolveu estudar a sociologia da Medicina? Talvez porque soubesse da preocupação do médico pelo sofrimento da população, sem acesso a tratamento médico, o que levou muitos profissionais de Medicina a aderir ao socialismo. “Nada impede – é claro – o médico de ser socialista. O que deve ficar claro é que a Sociologia da Medicina não é, como tal, uma sociologia subordinada ao ideal e à doutrina socialista” – diz o escritor às páginas 151 do referido livro.
O que mais impressiona no trabalho do sociólogo é a densidade de suas observações, sempre balizadas em respeitáveis opiniões nacionais e internacionais. Em “Médicos, Doentes e Contextos Sociais” temos um escritor e sociólogo falando de Medicina.
De leitura mais amena, temos também os médicos que por alguma razão tornaram-se escritores, como é o caso de Ryoki Inoue, Moacyr Scliar, Pedro Nava, Roland Paraíso e dezenas de outros conhecidos ou não. O Brasil está cheio deles.
O caso de Ryoki é no mínimo curioso. Já exercia a profissão normalmente, no pronto socorro do Hospital das Clínicas de São Paulo, quando resolveu dedicar-se a escrever as mais variadas histórias. Abandonou a profissão e transformou-se no único escritor brasileiro a figurar no Livro dos Recordes, como autor de mais de 1.000 livros. Não é muito conhecido nos meios intelectuais. Alguns críticos torcem o nariz para suas obras, como o fazem também com relação a Paulo Coelho.
Mas Paulo Coelho é o autor brasileiro mais conhecido no exterior e Ryoki Inoue é o único brasileiro a exibir, com orgulho, sua performance de rápido no gatilho. É mais rápido que Aguinaldo Silva, que produz uma montanha de textos por dia para as novelas da Globo.
A propósito da produtividade literária lembro o mico que paguei ao mostrar um conto ao amigo Osman Lins. Ele perguntou em quanto tempo eu havia escrito o tal conto, de cinco laudas. Respondi prontamente: num fim de expediente, entre cinco e seis da tarde. Não querendo ser grosseiro, o escritor, já com um câncer no cérebro, apenas me contou que levava um dia inteiro para escrever uma lauda.

MÉDICOS E LITERATURA (II)

A relação entre médicos e literatura oferece a qualquer estudioso um dos mais profícuos campos de estudo. Diferentemente do caso do jornalista-escritor, que foi objeto de interessante encontro no ano passado em São Paulo, o médico enfrenta situação em que o conhecimento das minúcias dificulta uma abordagem mais generalizante. Em sua eterna preocupação com causas e efeitos, nem sempre ele consegue escrever para grande público. Mais comum é o médico escrever livros e mais livros sobre sua especialidade, ou didáticos, o que o coloca na situação de um escritor superdotado, de inteligência fora do comum, mas por isso mesmo não consegue uma linguagem acessível.
Casos raros são os de Içami Tiba, autor de “Quem Ama, Educa”, que atinge milhões de leitores com suas experiências em torno de educação infantil, ou de José Knoplick, que chegou a vender 195 mil exemplares de seu “Viva Bem Com a Coluna que Você Tem”, livro de cabeceira de quem sofre da coluna. São livros de leitura simples, ao alcance de qualquer um, e que por isso mesmo se transformam em “best sellers”. Outros valem por sua precisão científica, como “Mentes Inquietas”, de Ana Beatriz B. Silva, que aborda a momentosa questão da hiperatividade.
A psiquiatria, por exigir exposições mais longas, já que suas questões são essencialmente discursivas, é talvez a especialidade médica que fornece maior quantidade de temas e respectivas variações. Apenas uma área do Instituto de Psquiatria, por exemplo - a de doenças afetivas, subdivide-se em dezenas de outras que originam livros importantes sobre depressão, esquizofrenia, ansiedade, etc. Na área de sexualidade, a Dra. Carmita Helena Najjar Abdo já lançou vários livros. Recentemente, a Dra. Stella Tavares, juntamente com seus colaboradores Pedro Paulo Porto Júnior, Pedro Luiz Mangabeira Albernaz, Márcia Carmignani e Andréa Mangabeira Albernaz, lançou o livro “Durma Bem Viva Melhor”. Os autores são do Hospital Albert Einstein. Provavelmente, eles não se consideram escritores. São grandes especialistas, que reuniram em livro suas experiências, num trabalho fundamentado, mas ao mesmo tempo acessível.
Nada obsta que sejam considerados escritores, embora no caso não se trate de um trabalho de criação, característica que se exige de um romance ou qualquer outra peça literária.
Outro médico que lançou um bom livro, recentemente, foi o professor Adib Jatene. Trata-se de “Carta a um Jovem Médico”, em que faz recomendações aos que pretendem ingressar na carreira. Mais interessante de que seus conselhos, importantes porém óbvios, pois baseados em que só deve abraçar o ofício aquele que tem amor ao próximo, é seu próprio testemunho de vida, ou seja, a trajetória de um menino que saiu dos cafundós (Xapuri-AC) e tornou-se professor titular da melhor faculdade de Medicina do país e ministro da Saúde.
Ser médico e escritor ao mesmo tempo exige capacidade intelectual e disposição física para escrever entre um trabalho e outro. Como a maioria precisa do lazer nos fins de semana, sobram os que têm gosto especial por esse tipo de atividade. Além de tudo isso, para ser médico e escritor precisa ter duplo talento.