segunda-feira, 28 de abril de 2008

DO OUTRO LADO DO BALCÃO

Em várias oportunidades estive de um lado e de outro do balcão. Muito jovem ainda, para custear minhas próprias roupas e sapatos, fui balconista de tecidos e de farmácia, em Gravatá (PE), porque meu pai, como todo nordestino que se preza, tinha oito bocas para sustentar.
Mais tarde, como jornalista profissional, conheci a expressão “do outro lado do balcão” com outro significado. Não era o vendedor que media brim ou aviava remédio para dor de barriga. Era o jornalista que saíra da grande imprensa para as assessorias de imprensa, vestindo a camisa da empresa para a qual trabalhava.
Das redações de revistas e jornais, onde menosprezava os “press release”, passei a produzi-los na esperança de que a mídia os transformasse em notícia, justificando assim o meu ganha-pão. Para minha sorte, sempre atuei em grandes empresas ou instituições, o que facilitava a aceitação de meus trabalhos. Na verdade, em alguns casos, era assediado com enorme freqüência para ajudar nisso ou naquilo, no caso do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, cujo renome antecede ao início de minha atuação como assessor de imprensa.
Em 21 anos de HC freqüentei centenas de cursos das mais variadas áreas da saúde, acumulando experiência senão científica, no rigor do termo, no mínimo de grande interesse e valia para o exercício da missão de bem informar. Acompanhei atendimentos médicos in loco, inclusive a realização de partos, transplantes e procedimentos de emergência. Pressionado pela mídia, infiltrava-me nos centros cirúrgicos até o limite possível, com autorização, para fazer o elo entre a administração e os jornalistas.
Graças a essa convivência compulsória suponho ter conseguido administrar tais eventos, adquirindo o controle emocional necessário nessas circunstâncias.
Isto é um fato. Outra coisa é estar outra vez “do outro lado do balcão”, não mais como observador, mas como paciente. Vejo-me na contingência de sofrer uma intervenção cirúrgica, sabendo de antemão causas e conseqüências.
Resta-me confiar nos médicos e na ciência, que poderão garantir minha sobrevivência por mais alguns anos e permitir que eu possa continuar levando os cinco netos à escola pelo maior tempo possível.

São Paulo, 28 de abril de 2008