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Milhares de pessoas se desesperam ao perder tudo por causa das chuvas.
Outras, sofrem por tabela, imaginando o quanto sofreriam se perdessem o que
acumulou durante vários anos com enorme sacrifício. Esse o clima que predomina
em todos os lares no horário chamado nobre, quando a família se reúne e faz uma
espécie de balanço de vida.
O que se passa na cabeça de cada um só se pode imaginar. Quem perde móveis,
eletrodomésticos, roupas e demais bens materiais vai à loucura. Aceitam
constrangidos a solidariedade e tentam se recompor.
Mal comparando, se as enchentes batessem à minha porta não encontrariam
nada além de objetos corriqueiros, como os móveis de uso comum, de pouco valor.
Durante 60 anos tudo o que juntei foram mágoas. Algumas vezes pisei fundo no
acelerador tentando voar. Era tão ruim de pontaria que não conseguia acertar
sequer o portão de minha própria casa.
Gostaria que as chuvas levassem as remotas lembranças da linha do trem que
atravessava a cidade e o desfile das meninas de azul e branco que assistia da
janela.
Anos e anos de trabalho com registro em carteira serviram para assegurar
minha sobrevivência, mas não para salvar a minha vida. Não foram as chuvas de
verão que me destruíram. Fui eu mesmo, com minhas próprias trovoadas.
SP 10/02/2025