Quando iniciei no jornalismo notícia era um fato incomum, que
chamasse a atenção por um motivo especial. A norma era informar sem isenção,
deixando ao leitor o direito de pensar o que quiser. Agora tudo é notícia, qualquer
coisa. Quem protestava era o povo, reclamando das más condições das calçadas,
da conta de luz, da falta d’água, enquanto os menos pobres se queixavam dos
buracos das ruas ou das estradas, que danificavam seus veículos.
Hoje tudo é notícia e até moradores do Morumby, bairro nobre
de São Paulo, abrem a boca contra tudo e contra todos. Nem precisa esperar Datena.
Qualquer pessoa bota a cara no celular e destila seu ódio contra tudo e contra
todos. O cenário pode ser qualquer um, desde a sala de sua casa até os baixos
de um viaduto. A internet conseguiu o que nem Marx nem Lenin jamais sonharam: direitos
iguais para todos.
Daí a estranheza ao ver a indignação de Ronnie Von. Morando
numa mansão de não sei quantos metros quadrados, com piscina, aquário, quintal,
galinheiro, etc.
Somelier assumido, se mostra revoltado pela falta de energia
elétrica que afeta a temperatura amena de sua farta coleção de vinhos importados.
Como saciar dignamente eventuais visitantes? Só comprando um gerador de energia
elétrica!
Um absurdo, diz ele, numa postura que foge à habitual
finesse. Não combina. Ele que fez sua carreira baseada em nobreza, desce ao
ponto de se dizer uma pessoa do povo, sofrendo as consequências da falta de
energia elétrica! Como os tempos mudam!